Antologia de Poesia Afro-Brasileira: 50 anos de consciência negra no Brasil

por Ananda da Luz Ferreira

 

Interrogação

(Solano Trindade)

 

Quando pararei de amar com intensidade?

Quando deixarei de me perder aos seres e coisas?

 

Quando me livrarei de mim?

Do que sou, do que quero, do que penso?

 

Quando deixarei de pratear?

 

No dia em que eu deixar de ser eu

No dia em que eu perder a consciência

Do mundo que idealizei…

Neste dia…

 

Eu sorrirei sem saber do que sorrio.

 

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Trincheira

(Cuti)

 

Falaram tanto que nosso cabelo era ruim

que a maioria acreditou

e pôs fim

(raspouqueimoualisourelaxoucanecaloucuras)

 

ainda bem que as raízes continuam intactas

e há maravilhosos pelos

crespos

conscientes

no quilombo das regiões

íntimas

de cada um de nós.

 

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Dúvida

(Esmeralda Ribeiro)

 

Se a margarida flor

é branca de fato

qual a cor da Margarida

que varre o asfalto?

 

 

Solano Trindade, Cuti, Esmeralda Ribeiros, são três dos/as muitos/as poetas que Zilá Bernd traz no livro Antologia de Poesia Afro-Brasileira: 150 anos de consciência negra no Brasil, lançado em 2011 pela editora Mazza.

Estamos no mês de novembro. Mês que comemoramos o dia da Consciência Negra, dia 20 de novembro, dia de Zumbi dos Palmares. Um mês para homenagear quem se une ao coletivo em todas as lutas e celebrações da vida, dia de rememorar e exaltar todas as pessoas que vieram antes e construíram possibilidades para chegarmos até hoje.

Um mês para visibilizar nossas lutas e conquistas do povo negro, mas também para lembrar que o nosso país tem muito o que caminhar no que tange uma sociedade antirracista. Não tem como esquecer que é o corpo negro que mais morre nas ações do Estado. Que o racismo se manifesta nas pequenas e grandes atitudes e como Azoilda Trindade nos diz, o racismo é morte em vida.  

Em novembro, para exaltar e partilhar a vida, convidamos artistas que em suas trajetórias clamam as vidas. No plural. Porque a arte de cada convidado é ancestral. Dialoga com muitos corpos e territórios e vozes e saberes e… Ecoa no coletivo, coletividade. Arte que é energia vital, Axé!

Convidamos artistas negros/as para compartilharem seus mundos conosco, para que no olhar-ler-sentir possamos adentrar no pluriverso que é a arte negra brasileira, que não se esgota nesta semana. Pois é enorme. Iniciar com uma antologia poética negra é para marcar o quão diverso e grande, de grandioso e extenso, é a produção artística negra no Brasil.

Vem com a gente.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ananda da Luz Ferreira, educadora, mestra em Ensino e Relações Étnico-Raciais, cursa a especialização O livro para infância – processos contemporâneos de criação, circulação e mediação.