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Des.estrutura
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Documento
Metadados
Título
Des.estrutura
Autor
COSTA, Sofia Olival
Colaborador
A Casa Tombada
Descrição
Por muito tempo fiquei sem saber qual caminho tomar na minha pesquisa de conclusão de curso da pós-graduação e assim, sem saber, fiquei. Paralisada, suspensa. Foi necessária uma barreira imposta no meio da minha suspensão, uma pausa forçada por motivos maiores para eu perceber que já estava caminhando, e poderia continuar, mesmo sem sair de casa. A minha andança vai ser interna, para acessar e explorar os becos, travessas e vazios das experiências que me trouxeram aonde estou agora. Para onde fui desde que decidi começar a caminhar e onde esse l o o o o n g o caminho está me levando.E ai, sem saber para onde ir, decidi seguir caminhando.Para quem pegou esse bonde andando e para eu mesma me localizar, vou contar um pouquinho dessa história. O ponto inicial dessa caminhada foi um questionamento pessoal acerca da minha formação como arquiteta e urbanista e uma extensa pesquisa sobre - e tendo como método - a experiência empírica como dispositivo de investigação doterritório. De uma angústia em relação à falta de tempo e incentivo dado a vivência no território, nasceu meu projeto de TCC da faculdade e também uma Sofia caminhante errante. De forma a entrar em contato com um dos mundos não contemplados na minha formação acadêmica, fui caminhar. Estar na rua “á deriva” me aproximou de pessoas que usam o espaço urbano e seus elementos materiais para se divertir, se exercitar, trabalhar, descansar, se encontrar, reivindicar, protestar. Me envolvi com praticantes de parkour e comecei a fazer parte de um coletivo feminista de escalada urbana. Essas movimentações iam amolecendo a dureza do concreto perante os meus olhos e me fazendo enxergar outras formas de uso de elementos e materiais diferente dos oficiais. Desses encontros, comecei a ver pulo, equilíbrio e escalada, telas e palcos em todo canto na cidade. Cada vez mais estava conhecendo a cidade com o meu corpo, feminino e subversivo. Comecei a entender o corpo como ferramenta de subversão, muito potente e adequada para nos levar aonde queremos ir e ultrapassar essas barreiras e abismo da cidade. Brincando com a cidade, sentia que abstraia as formas dos objetos atribuindo-lhes novas funções e significados, subvertendo a lógica espacial funcionalista e mostrando outras cidades possíveis através de inúmeras possibilidades de construí-la e reconstruí-la.A brincadeira é uma forma de aprofundar vínculos e intimidade com o território, sendo assim uma atividade do espaço urbano assim como o comércio, o trabalho, o social. Brincar é ressignificar, criar mundos próprios, libertar-se, colocar-se em outro lugar, em outro tempo, teatralizar, virar ao contrário, fazer sempre de novo, não ser útil, ser incerto. Está na brincadeira a origem de nossos hábitos. E ninguém melhor de brincar do que as crianças. Executoras oficiais da brincadeira são sempre criadoras e participantes nesses espaços-brinquedos e foram suas “traquinagens” que me mais me chamaram a atenção porque envolvem um pouco de tudo (arte, movimento, dança) sem pretensão, sem profissionalismo.Mas a criança no Brasil de hoje, transita por espaços específicos de brincar, por parquinhos que são reflexo da insegurança e que não suportam a potência imaginativa daqueles que estão ali, ou escolas onde o brincar é tolerado desde que declaradamente voltado a fins pedagógicos.Partindo de uma crescente convicção de que a brincadeira é uma das infinitas possibilidades de disputa na cidade, de que fortalecer espaços para os brincantes, fortalece a comunidade e de uma vontade de brincar para transformar a cidade, decidi me encontrar agora com as crianças e pensar de que forma poderia colaborar para trazer pra rua essespequenos agentes transformadores, numa cidade que não convida. E ai veio o Brincreto, no momento em que convidei diversas crianças para caminharem junto comigo em um terreno baldio na favela de Paraisópolis, em São Paulo.
Assunto
Brincadeira | Brincreto | Caminhada como método para arte e educação | Cidade | Jogos | relato
Idioma
Editor
Editado por Fernando
Acervo
omeka
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