Os tremores e as fissuras estão por toda a parte. Inclusive nas palavras. Já não estamos mais tão certos de que elas vão nos ajudar a despertar. Elas precisam de uma nova ordem, precisam emergir de um outro lugar.
Antes de estarem aqui, nos dicionários, nas bíblias todas, nas catedrais gramaticais, nos discursos inflamados, nas
tagarelices, nos mutismos, nos silenciamentos, onde estavam as palavras? Onde sempre estiveram?
Não sabemos exatamente. Não precisamos de respostas. Nossos corpos só querem fincar os pés no chão. Cada vez mais. Andar com os ouvidos colados na terra. Chão que não acaba, chão em camadas, chão que também é manto.
Chão em construção permanente. Todos os nossos pés sob esse berçário de forças, incandescentes e líquidas, prestes a jorrar.
Que jorrem. Do magma profundo emergem os ingredientes para a vida: água, carbono, explosão, invasão. Que jorrem palavras-vida; palavras-lava; palavras-magma. É urgente transbordar.
Ângela Castelo Branco
imagem: frame do filme “Visita ao Inferno”, de Werner Herzog