Os indícios e a transfiguração no trabalho de Sheyla Ayo

 

por Marcelo Ariel

 

Ou o inconsciente ancestral derrota o inconsciente colonial ou a arte perderá o sentido de existir em um futuro breve. Sheyla Ayo se insere dentro de uma linhagem de artivistas  que promovem uma fusão de arte e ativismo bem antes do termo entrar em uso corrente. Seu trabalho extremamente singular dialoga internamente com o de outras artistas negras como Nathalie Anguezomo Mba Bikoro, Moussa Traoré e Jack Whitten, apenas para citar alguns.

São raras as artivistas que como Sheyla são capazes de conjugar em suas obras uma convergência entra as marcas topológicas da ancestralidade e os sinais urgentes de demandas de transformação de sua própria época. Em seu trabalho, interioridade é anterioridade, corpo se converte em topologia, tempo em espaço e memória da pele em cartografias do inconsciente.

Nos indícios mais do que nítidos de mutação do mundo estão os vetores que movem a arte de Sheyla que os transfigura em atos de fala do corpo insurrecional de uma mulher negra do Brasil, com tudo o que isso tem de fúria, dignidade, força, coragem e intuição. Não se trata de uma obra em tensão permanente com as linhas estéticas da civilização branca, procura seguir os caminhos lúcidos e cosmopoéticos da natureza, fonte dialógica com a qual ela compõe com grande força sinérgica uma nítida organicidade.

Sheyla é uma artivista que busca romper  os pactos de subalternidade e branquitude  que caracterizam a arte brasileira e mundial em seus sintomas coloniais de origem e sua arte  desconstrói a imanência capitalística-branca-antropo-falo-cêntrica e inclui o mundo no corpo como a floresta inclui o animal humano. É um trabalho onde topologias vivas constroem um refúgio para o olhar se tornar cosmopoético a partir da percepção de forças invisíveis.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Marcelo Ariel, 1968. É poeta, filósofo e ensaísta. Autor de OU O SILÊNCIO CONTÍNUO poesia reunida ( Kotter Editorial – Prêmio Biblioteca Nacional de 2020), Nascer é um incêndio ao contrário ( Kotter Editorial, 2020), Subir pelo inferno, descer pelo céu ( Kotter editorial, 2021) entre outros… Vive em São Paulo.

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