Estamos com a respiração descompensada, sair de casa faz os olhos doerem de tamanho brilho, estamos recolhidos em encontros virtuais. Sem contorno. Ainda assim a literatura está lá: coçando, cavando territórios nos sonhos, na volta ao estudo, nas notas que inesperadamente pousam no papel, nas horas de leitura roubadas. Um talvez. Uma dobra. Um desvio. E uma entrega. Entre o silêncio, o direito e a aproximação.
É por isso que precisamos da literatura, como diz João Rocha:
“Se os ratos da fábula de Kafka tivessem sido sonhados por uma sociedade menos paralisada pelo medo; se tivessem experimentado o ócio de se entregarem por horas à leitura de um livro, à contação de uma história ou mesmo a um filme ou uma peça de teatro inebriantes; poderiam em um determinado momento pensar em seguir um caminho completamente diferente da multidão acéfala da qual faziam parte e isso poderia fazê-los escrever, filmar, tocar, atuar ao invés de ficarem indiferentes face ao canto de Josefina. A experiência literária é o que faz com que uma obra não se transforme em um cânone para a qual se construirão caminhos imóveis para ser desvendada, mas em algo que pode ser tocado, mas não apreendido totalmente, como a areia que sempre escapa pelos dedos” (2018)
Leia aqui o artigo “Por que ensinar literatura?” na íntegra:
http://www.revistadobra.pt/uploads/1/1/1/8/111802469/joao_rocha_pcritico.pdf
João Rocha é parceiro-amigo-vizinho d’A Casa Tombada em em janeiro oferecerá o curso online “A Ética da Paisagem”, onde trabalhará com textos de Maria Gabriela Llansol, Paul B. Preciado, Ailton Krenac, Stephano Mancuso e Francis Ponge