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Pensar, fazer e brincar o livro: uma proposta de experimentações de narrativas e materialidades
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Documento
Metadados
Título
Pensar, fazer e brincar o livro: uma proposta de experimentações de narrativas e materialidades
Autor
LORENZETI, Fabiana
Colaborador
A Casa Tombada - O livro para a infância
Descrição
"Hoje sou uma mulher buscando as partes que me compõem.Sou mãe, em fase de desmame.Sou educadora e busco me completar, mepreencher de sentido, graça e gosto.Sou artesã, sou do fazer com as mãos e sem ela."fev. de 2019Este foi o primeiro registro que fiz no caderno que habitei por estes dois anos do curso "O livro para infância". Mal sabia com a cabeça o que o coração já pulsava. Na encruzilhada das águas, neste exato ponto crucial onde confluem fluxos e águas vindas de diferentes direções, foi que me encontrei com A Casa Tombada e o curso "O livro para a infância". Foi neste encontro que as águas se deram conta uma por dentro da outra. Ser mãe, ser humano, ser mulher, ser educadora, ser artesã, ser pesquisadora… São tantas as nossas águas, tantas que nos cabem, e que às vezes também nos escapam e transbordam. A liquidez da vida nos impõe o difícil equilíbrio entre o enchimento e o esvaziamento das nossas águas. Muitas vezes foi necessário esvaziar uma, para dar lugar à outra que insistia em inundar quando não devia, tal como fazia Raquel com suas vontades escondidas na Bolsa Amarela. Minha pesquisa pessoal com os livros e a encadernação sempre foi (mais) entendida como um hobby, uma atividade não essencial, menos importante, que não representava o meu sustento ou um estudo institucionalizado digno de reconhecimento. O trabalho como educadora de infâncias e juventudes no Sesc, nesses últimos anos, sempre foi entendido como a atividade principal, prioritária, institucionalizada e que traz o sustento. Inalienável. Já a maternidade como condição permanente imbuída de uma obrigação moral e o encontro com as infâncias, pareciam mais próximas e acolhedoras uma com a outra. Já houve vezes onde pude misturar essas águas, em tranças, ondas e redemoinhos. É de sentir uma força e uma inteireza difícil de explicar. É quando aterramos os pés no chão que as asas ficam prontas para voar. E voam. São nestes momentos breves e ainda tão controlados que eu me vejo, tão complexa e múltipla, quanto una. Está tudo em mim. Está tudo aqui. Para construir e materializar a narrativa dessa jornada foi preciso antes, mergulhar profundamente no manancial onde se guardam as memórias da infância. Mais ainda, as memórias daqueles de onde viemos. Compreender quem sou, de "quens" eu vim, quem me acompanhou, me cuidou, nutriu, ensinou. Olhar para a própria infância, compartilhada e vivida junto de outras pessoas, de forma, lugar e contexto absolutamente subjetivos e tentar encontrar a presença do livro. Depois desse reconhecimento, e de emergir das profundezas da memória, ganhei força, consistência e clareza. Foi depois desse mergulho, e só depois dele, que pude enfim, seguir a jornada do livro para infância acompanhada de mim mesma. Nesta viagem cheia de novidades e deslumbramentos algumas coisas me chamavam mais a atenção. O papel, a forma, a cor, a imagem, o jogo divertido entre a imagem e a palavra, o silêncio, o vazio, as sacadas e construções dos autores, a maneira surpreendente como encontram formas de expressar as coisas, todas as coisas… todas no livro. Perceber o livro como esse lugar de falar e mostrar o mundo e tudo o que há nele, e até o que não há. Esse lugar que não tem limites. Se está na água é peixe, se está no céu é passarinho. O livro é uma possibilidade que a gente tem de materializar o que está por dentro. É uma linguagem, um jeito de dizer as coisas por todos os sentidos. O livro é matéria. É pensamento pegado na mão. E como a gente gosta de ver com as mãos, pensar com a boca e cheirar pelos ouvidos é preciso também que a gente possa se dar aos devaneios de produzir essa linguagem, de pensar, fazer e brincar o livro. Experimentar materiais, narrativas e leituras. Expandir a percepção. O livro na infância O livro para a infância O livro pela infância E o que acontece se oferecermos às crianças um laboratório de experimentos possíveis para pensar, fazer e brincar o livro? Da incrível liberdade e frescor dos pensamentos e devaneios infantis, das leituras e poéticas sobre o mundo, das suas próprias cosmogonias, dessa novidade transcendental que nós adultos teimamos em querer desvendar. O que se pode materializar nesse espaço? O que pode ser a experiência do livro? É aqui, neste ponto crucial onde as águas já não se sabem separadas. É aqui que faz sentido. É aqui que está inteiro, em presença e essência. E é aqui também, onde germina, toma forma, se constrói e se desconstrói o desejo e a concretude do Laboratório do Livro como espaço e proposta desse pensar, fazer e brincar.
Assunto
Data
2021
Idioma
Bibliografia
CARRION, Ulises. A nova arte de fazer livros. Editora C/ Arte. Belo Horizonte. 2011.DERDYK, Edith. Entre ser um e ser mil: o objeto livro e suas poéticas. Org. Edith Derdyk. Editora Senac São Paulo. 2013.DERDYK, Edith. O espaço da criação e a criação do espaço. Revista Emília. 2011.Disponível em https://revistaemilia.com.br/o-espaco-da-criacao-e-a-criacao-do-espaco/MUNARI, Bruno. Das coisas nascem coisas. Edições 70. Lisboa, Portugal. 2020.MUNARI, Bruno. I Laboratori Tattili. Edizioni Corraini. Mantova, Itália. 2018.PINTO, Álvaro Vieira. O conceito de tecnologia. Volume I. Contraponto Editora. Rio de Janeiro. 2005.PIORSKI, Gandhy. Brinquedos do chão: a natureza, o imaginário e o brincar. Editora Peirópolis, São Paulo, 2016.
Acervo
omeka
1777