Sobre o curso
Este percurso é um jogo de cartas provocado por duas mulheres que buscam ler o passado para anunciar outros futuros. O jogo é um processo criativo onde participantes compõe vídeos-cartas a partir das histórias de suas antepassadas. Este jogo enaltece a vida e suas possibilidades de encantamento, para além dos gêneros e dos papéis a eles atribuídos.
Uma vez que todes nascemos de mulheres que nasceram de mulheres, este é um (per)curso para quem quiser chegar! Se estamos olhando para matriarcas é porque as histórias de vidas femininas foram menos narradas e valorizadas.
Durante o percurso olhamos para as camadas que compõem as história de vida: rastros, cicatrizes e restos. Intimidades caladas, sotaques baixos, lacunas, histórias silentes. Assim, em cada encontro abrimos cartas que possam sugerir, despertar, provocar memórias e investigações dos caminhos percorridos por nossas matriarcas – e onde tudo isso toca a nós, em nós. Lembranças onde adormecem fatos, afetos e esquecimentos, e na fresta dessas camadas abrimos espaço para criar.
Aqui criar e lembrar ocupam a mesma casa.
O formato vídeo-carta serve a estes tempos de encontros remotos em que tanto temos nos expressado por vídeo, por telas, por registros digitais. Não é preciso conhecimento de vídeo especializado, apenas lançar mão das ferramentas digitais que temos ao nosso alcance. O processo criativo diz respeito a olhar os rastros, cicatrizes e restos (fotos, fragmentos de histórias, rascunhos de poemas de uma avó, um jardim cultivado pela bisa, uma ausência dolorida de uma antepassada que foi embora) a partir de alguns disparadores. São eles: as cartas de um baralho Biografêmico que traz imagens inusitadas de femininas encantadas; textos que pensam e poetizam memória, narrativa, erotismo, feminina, gênero e liberdade; e filmes que inspirem a criação da vídeo-carta, ampliando possibilidades narrativas.
Percurso do curso
Jogo 01 (23/4)
Memória e identidade: as cartas que nos divinizam – outras possibilidades de Ser. Apresentação das regras do jogo, primeiro carteado entre participantes do percurso e reflexões sobre o conceito de rastro e cicatriz, de Walter Benjamin.
A Voz das avós: seguir os rastros deixados pelas matriarcas para encantá-las em outras imagens. A noção de encantamento por uma filosofia popular brasileira.
Jogo 02 (30/4)
Biografema & biografêmeas: Roland Barthes cria o conceito de biografema para escrever uma vida humana. O que podemos escrever a partir da perspectiva de biografêmeas?
Ulysse, curta-metragem de Agnes Vardá: uma narrativa cinematográfica construída a partir de uma única imagem. Uma investigação em direção ao passado, ao que uma imagem pode dizer e ao que ela não pode dizer, mas apenas representar.
Jogo 03 (7/5)
Desenterrando antigos espelhos: o erótico é um reflexo dentro de nós. Um erotismo latino, superlatino e superlativo, nos impulsiona a viver. Que gesto paira no caminho das ancas que nos pariram? Quais segredos podem ou devem ser revelados? Quem tem medo da Pombagira?
Jogo 04 (14/5)
Um gênero sui generis. Imagens e papéis atribuídos aos corpos. Calibã e A Bruxa, de Silvia Federici – a subjugação do corpo feminino ao homem e ao estado como projeto que ajudou a erigir e sustentar o capitalismo. As contribuições de Lélia Gonzales e a amefricanização do feminismo.
Jogo 05 (21/5)
Escrituras pela fenda da porta: “Não me interessa o próprio acontecimento em si, mas o acontecimento dos sentimentos. Digamos assim: a alma do acontecimento. Para mim, os sentimentos são a realidade. E a história? Está na rua.”, diz a escritora Svetlana Aleksiévitch. Escrever e narrar vozes (não mais) silentes, bordando uma poética da intimidade. Olhar para a História pelo minúsculo, o detalhe, o cotidiano, a costura, o lado de dentro.
Jogo 06 (28/5)
Processo de criação: visita aos tabuleiros.
Jogo 07 (11/6)
A mesa de carteado: a partilha das cartas.
Bibliografia
- Aleksiévitch, Svetlana. A guerra não tem rosto de mulher. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.
- Federici, Silvia. Calibã e a bruxa, mulheres, corpo e acumulação primitiva. São Paulo: Elefante, 2017.
- Lorde, Audre. Usos do erótico: o erótico como poder. Traduzido por tate ann de Uses of the Erotic: The Erotic as Power, in: LORDE, Audre. Sister outsider: essays and speeches. New York: The Crossing Press Feminist Series, 1984. p. 53-59.
- Mitidieri, André Luis. Silva, Murilo Cesar. Com Roland Barthes, reinventam-se vidas pulverizadas. Revista Língua & Literatura, v. 17, n. 29, dez. 2015.
- Priori, Mary del. Histórias Intimas: sexualidade e erotismo na história do Brasil. São Paulo, Pleneta: 2011.
- Simas, Luíz, Rufino, Luís. Quem tem medo de Pombagira? Fogo no Mato: as ciências encantadas das macumbas. Rio de Janeiro: Mórula, 2018.
- Simas, Luíz, Rufino, Luís, Haddock-Lobo, Rafael. Arruaças: uma filosofia popular brasileira. Bazar do Tempo, 2020.
- Tiburi, Marcia. Feminismo em comum: para todas, todes e todos. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2018.
Filmografia
_Ulysse, Agnes Varda (1982) https://vimeo.com/407121105
_As Hiper Mulheres, de Carlos Fausto, Leonardo Sette. Takumá Kuikuro, 2012. https://ayalaboratorio.com/2018/08/17/as-hiper-mulheres/
_Glauces – Estudo de um Rosto, de Joel Pizzini
http://portacurtas.org.br/filme/?name=glauces_estudo_de_um_rosto
_Para Sama, de Waad al-Kateab e Edward Watts (Globoplay)
_Elena, de Petra Costa (Netflix)
-A Ciência encantada das Macumbas: Simas Luís, Rufino Luís, 2019. https://www.youtube.com/watch?v=Yc4sOb0B_XM&t=224s
Quem são as professoras
Sandra Lessa é mestra em Artes da Cena pelo Programa de Pós-Graduação do Instituto de Artes da Unicamp, onde desenvolveu a pesquisa “O Narrador está em quem ouve: o estudo de histórias de vida no trabalho do ator-performer” (NEA Edições Acadêmicas: 2015). Sua pesquisa percorre o caminho da escuta, escrita e narração biográfica, acolhendo as ficções que residem nas memórias pessoais. Trabalha com o Instituto Museu da Pessoa e a Associação Arte Despertar. Escreveu o livro O Farol das Ilhas: histórias de vida para além de um hospital – memórias de pacientes do Hospital das Clínicas de São Paulo (Arte Despertar: 2009). Organizou os livros E Era Tudo Verdade: coletânea de histórias de vida (Biblioteca Hans Christian Andersen: 2016) e Narradores de Vida (Museu da Pessoa: 2017). Como artista percorreu o Brasil, Europa, América Latina e México, pesquisando e atuando com a escuta poética para o encontro com o outro.
Tatiana Lohmann é diretora, montadora e fotógrafa, com atuação principalmente no campo documental. Realizou curtas, longas, videoclipes e séries de TV (MTV, TV Cultura, Nat Geo, TV Brasil). Dirigiu, entre muitos outros, Respeito É Pra Quem Tem, clipe do rapper Sabotagem finalista do VMB 2003; Solidão & Fé, longa documental, Prêmio do Júri Popular na Mostra de Cinema de Tiradentes 2010; A Vida Começa (2014) e crônicasNÃOditas (2015), séries de ficção, junto ao coletivo Manifesto Impromptu (Canal Curta!); SLAM: Voz De Levante, longa documental (2017), em codireção com Roberta Estrela D’Alva, Prêmio Especial do Júri e Melhor Direção de Documentário no Festival do Rio, Melhor Filme Nacional no FIMCINE 2018, Menção Especial no Nova Frontier Film Festival/NY. Em 2019 finalizou Minha Fortaleza, os filhos de fulano, documentário de longa metragem que convive com famílias de uma quebrada em SP que tem em comum a falta de pai, gerando a idealização da figura materna. Em 2020 realizou a instalação Falares, projeto documental de grande porte que vai integrar o acervo fixo do Museu da Língua Portuguesa. Acaba de finalizar a série 40m2, construída a partir de 200 curtas metragens de jovens realizadores/as periféricos/as da cidade de São Paulo (produção Instituto Criar com Projeto Paradiso, SPCINE e Globoplay) e o curta VIVXS, um vídeo manifesto antirracista, em parceria com Roberta Estrela D’Alva, Claudia Schapira e o multiartista norte-americano Saul Williams (apoio Ford Foundation).
Quando
Dias 23 e 30/4; 7, 14, 21 e 28/5; 11/6
Horário das 19h às 21h
Onde
Online
As informações de acesso serão disponibilizadas por e-mail.
Público
Geral
Turma
30 pessoas
Investimento
R$ 350,00
PagSeguro
* em até 4X sem juros no cartão de crédito.
* 7% de desconto para pagamentos via boleto bancário.
PayPal
* 7% de desconto no cartão de crédito (parcela única).
* em até 6X sem juros no cartão de crédito.
VOCÊ PRECISA ESPERAR A DATA DO CARTÃO VIRAR?
Fale com a gente e reserve sua vaga pelo e-mail [email protected]