há um instante em que o ar deixa de ser submisso
e não se decide mais respirar: é o ar quem (nos) respira
há um instante em que se adensam os
poemas os humores as forças as superfícies
somos matérias
do mesmo gesto cortante do vivo
um fazer parte
em que tudo conversa com tudo
uma lâmpada se acende sem energia elétrica
um animal se veste de ventania
o centro da terra cospe a semente
somos atmosfera
que insurge, circunda
e, de excitação em excitação,
escuta-se o segredo:
co existimos
co extensivos
ao longo de nós
Ângela Castelo Branco