Poemas

 

 

por Clareanna

 

 

arritmia

 

vários são os fatores

que fazem um coração disparar

uma noite mal dormida

o corpo sem comida

ou um novo amor a pulsar.

 

—————-

 

À porta da frente

 

no começo do fim

existe uma porta

um início pra mim

no meio da aorta.

 

—————-

 

mu/dança

 

mudar o estilo,

mudar o status,

mudar de vez…

 

mudar com a lua.

ficar nova,

minguante,

nua,

talvez.

 

—————-

arquitetura

 

no fio elástico da minh’alma

que desenha a minha cura

faz de mim a ideia farta

e de tu a essência pura.

 

quando você, doce, for água

eu, extensiva, serei chuva.

se sua visão é sagaz e clara,

a minha é lenta, estranha e turva.

 

sua vida, se é amarga

eu sou a própria amargura.

mais complexo que seu fardo

é a minha arquitetura.

 

—————-

 

Acordar

 

soltar a linha no horizonte 

e puxar

suspender os sonhos 

pelo fio da manhã

navegar o dia

e em maré alta mergulhar

fixar os pés no asfalto

tropeçar na esquina

se apoiar na rotina

e então retornar.

 

—————-

 

vende-se poesia

 

vende-se um pedaço de carne

uma gota de sangue

o absurdo

 

vende-se 

a tradução do sofrimento

o pôr-do-sol

o grito mudo

 

vende-se

a solidão do corpo

ele excitado

 

vende-se qualquer canto

o beijo não dado

 

vende-se o pranto

o risco atrás do ponto

 

vende-se o poema

o confronto

 

vende-se uma gota d’água

vende-se a vida

 

a letra

o óbvio

a partida

 

vende-se a dor da ferida

o dedo

o caule

a coisa

o ritmo

a ótica

o verso:

à vista.

 

 

 

 

Clareanna Santana, nascida em abril de 87, baiana residente da capital da Paraíba desde 2006, é cientista social, mestre em antropologia e poeta. É colaboradora do grupo musical e ponto de cultura Viola de Bolso (Eunápolis/BA). Publicou poemas em fanzines, e-zines, revistas literárias, coletâneas e antologias poéticas. Compartilha seus trabalhos no perfil do instagram @clareamente