Quem escuta, por Ângela Castelo Branco

Por Ângela Castelo Branco

 

Quem escuta não depende apenas de bons ouvidos.

Há quem escute pelos pés, há quem escute pelas pontas dos dedos, há quem escute pelo estômago, pela paisagem. Pelo focinho gelado e úmido de um animal. Pelos olhos de alguém.

Quem escuta precisa desconfiar de sua posição única no discurso, precisa saber trocar de papel, cambalear. Tomar parte da escuta sabendo que é apenas uma parte. Precisa saber jogar. Precisa saber que aquele que escuta é também escutado.

Quem que escuta, prescruta. Quem escuta, cutuca. Enraiza. Quem escuta, cria. Vê a luz do que escutou. Adentra uma língua outra.

Quem escuta, escuta com toda a pele, mãe dos sentidos. Posso localizar em alguma parte do corpo meu melhor jeito de escutar, mas não posso escutar sem minha pele.

Diz-me por onde você escuta que eu te direi quem és. Aquele escuta é chamado a atualizar em si a divindade do deus Poros (poro significa caminho), pai de Eros, aquele que nos mostra o caminho. É pelos poros da pele que se dá a conhecer o amor.

Escutar precisa da voz, não apenas do outro, dos objetos, mas da nossa própria voz, do nosso próprio som. Requer o tônus do órgão da percepção, afiado na alegria dos encontros.

Escuta-caverna, ouvido-labirinto incrustado no crânio, entranha do estranho, canal de abertura ininterrupta em cada lado da cabeça. Eu te escuto porque não tenho como prever o que vou escutar. Eu te escuto porque não consigo saber quando vou ressoar.

Ontem, dia 30 de maio, a primeira turma do curso de pós-graduação: A vez e a Voz das crianças, idealizada e coordenada por Adriana Friedman concluiu seu percurso. E foi uma manhã inteira dedicada à escuta de cada uma das alunas que passaram dois anos juntas. Entre as falas  ditas e não ditas brotaram testemunhos-experiências, processos de transmutações, memórias vivas dos professores e convidados que por lá passaram, processos de aproximação de si, das crianças, cuidados consigo e com os outros assumidos, pactuados.

Um concluir abrindo, um terminar que se volta ao começo.

Eis a espiral da escuta.

Nosso agradecimento a Adriana Friedmann, a todxs professorxs convidados e às alunas desse curso (agora vizinhas d’A Casa):

Andrea Bargas,

Carla Bruna Altafini Nastri,

Cristina Helena De Souza Rocha,

Daniela Padilha,

Eliani Ragonha,

Elisa De Souza Schuler,

Eloisa Monteiro,

Evelize Zamone Moreira,

Fabiane Vitiello De Oliveira,

Fernanda De Jesus Do Carmo,

Fernanda Peixoto De Miranda,

Francisca Telma Holanda Ferreira,

Gabriela Schein Riberto,

Gláucia Sales Paez Fernandez,

Helena Rios Segnini,

Ingrid Vieira Dos Santos,

Isabela Pinho Gomes Assêncio,

Jacqueline Nara De Assis,

Júlia Mollo Tavares,

Katia Keiko Matunaga,

Lais Fleury Cunha Rego Monteiro,

Laís Maria Nóbile,

Laizane Oliveira,

Leila Ramos Monteiro,

Luciana De Mattos Dias,

Luciana Sbampato,

Marcia Covelo Harmbach,

Miraíra Noal Manfroi,

Natália Ilse Da Silva,

Pamela Alves De Andrade,

Sabrina Costa Barros,

Tânia Fonseca Pinto,

Teresa Andréa Ferrara,

Vanessa De França Camargo,

Vydian Felix Baptista Numa.

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