por Lucimar Belo
cento e quinze dias
a palavra coração
tem cor e
ação
a palavra coração
pulsa
pula
sustenta
cuida
o coração das mães
dos filhotes
dos bichanos
o coração fogo fátuo
o coração das lentidões
o coração ora as horas
das cores
e
das ações
o coração é igual a ovos cheiros vazios
o coração é igual a pulsos ecos sustâncias
a palavra cérebro tem é! pensa e duvida
um “é” quase ébrio, em tempos de quarentenas fritas
a palavra intestino tem “ino” sem “h”
em quarentenas não cabem hinos
em 115 dias cabem os sinos do ar dos mares das florestas dos vulcões
cabem a vida de cada pessoa e das pessoas
cabem o coração e o cérebro e o intestino e as engenhocas do corpo
e as peles que pulsam em continuidades e enredam a vida coletiva
cento e quinze dias 2020
Lucimar Bello. Nascida nas Minas Gerais. Vive e trabalha em São Paulo, Brasil. Artista visual, desenhos, assemblages, instalações, vídeos, performances, livros de artista. Escritora. Exposições individuais e coletivas no Brasil, Argentina, Chile, Cuba, Japão, China, Portugal, Espanha, França. Pós Doutora em Comunicação e Semiótica, PUC-SP. Pós Doutora no Núcleo de Estudos da Subjetividade, PUC-SP. Mestre e Doutora em Arte Educação ECA-USP. Profa. Titular Aposentada UFU-MG.