Esperando não se sabe o quê, com Jorge Larrosa

Por Ângela Castelo Branco

 

Um livro com 523 páginas. Com uma pintura do século XIX na capa. Alguém entoando um ditado para seus alunos de bochecha rosada. Esperando não se sabe o quê, o nome.

Esse seria o ofício do professor. Aquele que professa. Não é sobre o trabalho do professor, sobre é sobre seu ofício. Ofício como modo de vida, vida que é gerada vivendo-se. Haveria um tipo de maestria, um tipo de precisão, de contorno, de estética nesse fazer?

Nós, os oficiantes. Nós, os que acreditamos que professamos algo. Onde e como estivemos esse tempo todo? Não seria a hora de falarmos concretamente conosco mesmos?

Nós, que sempre estivemos ali, entre a lousa, o giz, o data show, o quadro branco, a roda de cadeiras, a voz, as pranchetas, as carteiras, as salas de aula, o café, o e-mail, o whatsapp, o intervalo, as atividades, o pátio, o banheiro, a leitura, a escrita, o ditado, a cópia, a repetição, as aulas online, livros devorados, o planejamento, a avaliação, o relatório, a perturbação do sono.

Esperando o quê?

Esperando um dia olhar para nossas próprias experiências, esperando um dia termos tempo de nos debruçar sobre nossas próprias notações, a ponto de encontrar nelas pontos de aberturas, de respiros, a ponto de estranhar a própria espera, a ponto de encostar no porvir. Esperando que nosso modo de professar o que professamos perfure os nossos modos cansados, estruturados, viciados de contar nossas próprias experiências pedagógicas.

Nós, os oficiantes, sempre estivemos a espera de um dia dizer: não sei o quê.

Talvez tenha chegado o ponto de falar assim comigo mesma: faço concretamente não sei o quê, mas faço-me fazendo. Por isso indico vivamente o livro: Esperando não se sabe o quê. Sobre o Ofício de professor, lançado pela editora Autêntica, em 2018, escrito por Jorge Larrosa.

referência da imagem: Norbert Goeneutte The Lesson.

 

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