por Kali Oliveira
Querida leitora,
Nasci em 1994 nos EUA. Aos 19 anos cheguei ao Brasil.
Tem gente que me chama de a casa onde quero morar. Sorrio porque, em parte, o desejo resulta das formas criadas por mim para habitar as pessoas.
Engraçado não? Você teria interesse em me conhecer?
Hoje às 19h, estarei na Casa das Escritoras, localizada na rua Liberdade, bairro Periferia do Mundo, número 69. Educadoras e estudantes engajadas, famílias negras e curiosos irão me prestigiar. Te espero lá.
Precisa de referências para encontrar o endereço? Aposto que o procurou no GPS, mas não achou. Então segue minhas dicas:
- Saia de casa entusiasmada. Siga a Avenida Defensoras do Direito a Diversidade.
- Dobre a primeira esquina da Crítica Feminista.
- Você irá encontrar a rua Pedagogia Anticolonialista. No fim do logradouro, tu verás a rua Liberdade.
Sou um anfitrião honesto, portanto declaro: nem todos ambientes da casa são agradáveis. Neles podemos observar senhores que insistem em serem donos das vidas das mulheres, negros e educadores. Eles inferiorizam pessoas negras, negam o poder emancipatório das mulheres, criam formas de ensino enganosas e lucram com suas posturas.
Outros ambientes são cheios de querenças, resistências e formas plurais de lecionar. Sempre damos a sorte de encontrar a bell hooks e o Paulo Freire proseando. Eles costumam nos abraçar, sentar ao nosso lado e oferecer café e bolo com sabor de aprendizagens comunitárias.
Assisto meninas-mulheres negras, estudantes e educadoras tocando as escrevivências da bell. As palavras sensíveis da escritora ajudam as pessoas a se olharem da cabeça ao dedão do pé. Cientes da sua completude, elas se gostam mais e criam rotas mais condizentes com suas vidas.
Acompanho educadoras e educadores aprendendo antes de orientar o outro. Nem sempre é confortável. Às vezes é conflituoso. Mas, quando reconhecem como limitantes, perigosas e mentirosas as fronteiras criadas pelo ensino de histórias únicas, quando compreendem o poder libertário do direito a diversidade, não abrem mão de revolucionar o ensino.
Pensar, agir, refletir, ensinar e transgredir tornam-se um mantra.
Bem, já falei muito de mim. Caso queira saber mais, aceite o meu convite. Posso contar com a sua presença?
Abraços e palavras do livro de ensaios da bell,
Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade.
Kali Oliveira
Baiana, coautora publicada nas coletâneas Negras crônicas: escurecendo os fatos, Carolinas e (Re)existência, escritora e produtora editorial do livro o Céu de Carol, idealizadora do Projeto Conta, preta! Conta!, Especialista em História do Brasil pela UESC, Mestra em História Regional e Local pela UNEB e estudante da pós-graduação: Narração artística: caminhos para contar histórias em contextos urbanos pela Casa Tombada.