Iniciação

por Talles Medeiros

Iniciação

  O despertar é uma dádiva, o invólucro que antes fora necessário já não me serve mais, os pedacinhos da casca branca do ovo estão se quebrando para que eu possa vir ao mundo, a lei natural dos seres me ordena que eu quebre o ovo vagarosamente até que surja os primeiros raios de sol. Morri para o ovo e nasci para o mundo. Quando eu era apenas um ovo, uma bruxa pousou em mim. Já fora do ovo , meu espírito cavalga diabolicamente liberto.

 

Entre o caldeirão da vida e os mistérios do além túmulo

  O túmulo também é uma divindade, em sua cavidade está contido o útero do descanso, onde todos são acolhidos maternalmente. A morte é em sua essência feminina. Os servos necrófagos que fazem morada em covas, instintivamente são encarregados de cometer o ato antropofágico. Este grande ofício sagrado será apenas interrompido quando houver somente pó. Um chacal guia-me entre as terras escaldantes do deserto. O escaravelho tocou minh’alma. Submerso pelas águas abissais entre um devaneio e outro, sou movido por uma força divina, a mesma força que faz com que o sol torne a nascer todos os dias. A mudez da solidão é um grito profundo. Através do sagrado útero de minha mãe, choro inconsolavelmente até o momento em que os raios luminosos da vida enchem-me de alegria. A maternidade também é uma divindade.

 

 Memórias da minha infância

As cortinas  da minha casa escondem grandes mistérios, dentro das cortinas eu me desfaço por inteiro chegando até não me reconhecer. Dentro das cortinas há meu mundo secreto. Dentro das cortinas há marés de lágrimas. Cortinas são como deuses; seres sagrados. E quando por um descuido qualquer deixava-as abertas, sentia uma alegria imensa de criança inocente, logo minha mãe tratava de fechá-las. Dentro das cortinas eu regresso para o útero da minha mãe, ao abri-las, renasço. Dentro das cortinas eu era um  sadhu morando em uma caverna em meditação profunda. “Louvado seja as cortinas que me ajudaram a me desprender de mim”.

 

Viagem astral

Sagrado coração

Flor embalsamada

Incenso de olíbano

Espírito viajante

Coruja noturna

Ó cordão de prata não se deixe quebrar,

Minhas entranhas foram expostas ao profano.

 

 

  Meu nome é Talles Medeiros, sou natural de Mossoró, Rio Grande do Norte. Tenho 24 anos e muitas inquietações sobre o mundo espiritual, minha escrita é fortemente influenciada pelos escritos de Clarice Lispector e o ocultismo de modo geral.

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