Formas de pensar o desenho-de Edith Derdyk-

por Camila Feltre

 

Maio de 2022

 

Estamos envolvidas com as aulas de Edith Derdyk na turma 8 da pós “O livro para a infância: processos contemporâneos de criação, circulação e mediação”. Revejo livros e materiais que ela nos convida a estudar e recupero uma resenha guardada há quase dois anos, sobre meu impacto e emoção ao ter em mãos a nova edição do “Formas de Pensar o Desenho”, livro de sua autoria que reeditado em 2020 pela Panda Books. Tiro da gaveta e compartilho agora com vocês.

 

 

 

Finalmente! O livro “Formas de pensar o desenho”, de Edith Derdyk chegou. Com alegria de um presente, pego e vou logo vou abrindo o pacote. Vejo a capa: desenho de criança. Já tinha visto esta imagem, mas uau, nas mãos é tão mais vivo. As letras têm uma pequena textura, um brilho. Abro o livro e vejo sumário: tanta coisa a descobrir.  Prefácio de Ciça Fittipaldi, Ana Angélica Albano, educadoras que tanto contribuíram para a formação em artes no nosso país e que são figuras importantes para a primeira publicação do livro. Ciça indicou o caminho do livro na década de 1980 e Angélica que escreveu o prefácio da primeira edição.

Começo a tomar contato com a história deste livro, que é também a história da própria Edith e do estudo sobre o desenho, arte e educação.  “Formas de pensar o desenho” foi lançado pela editora Scipione pela primeira vez em 1988, foi reeditado em 2010 e em 2020 ganha nova casa editorial, a Panda Books. 

Me dou conta que o livro foi editado pela primeira vez no ano em que nasci e isso me comove ao pensar o tanto que esta artista e educadora contribuiu e contribui para os estudos que temos hoje. É um trabalho permanente de pensar arte, propor, criar e viver.

Meus dedos correm para a última parte do livro “Proposições e Experimentações – o fazer individual e o fazer da história”, em que conversa diretamente com educadoras e educadores (o que acontece no livro todo) e que me interessa muito, como professora que sou. Nesta edição, Edith revisita as proposições da edição de 1988 e apresenta propostas que tem sido experienciadas, reformuladas e revisitadas ao longo dessas três últimas décadas.

“Segue uma série de proposições – um convite para as errâncias que envolvem o ato de desenhar, fomentando o repertório gráfico, convocando o campo simbólico. São proposições que intentam acordar o processo de aquisição da linguagem, de forma a valorizar o traço que nasce do gesto e, como decorrência, a linha e suas qualidades expressivas” (p. 130)

“O desenho é um fato aberto.” (p. 133)

Generoso o ato de continuar a nos dizer, Edith.

Volto ao início do livro: “Vivências”. Me chama atenção perceber a sua atuação como artista conectada com a de educadora e pesquisadora. 

Edith conta da sua vivência no ateliê da artista Paulina Rabinovich, onde frequentou dos oito aos vinte anos e fundamental para sua formação artística e profissional. Para ela 

“A raiz do gosto de desenhar provem dessa infância ‘não adormecida’, um dos segredos brilhantes do trabalho realizado intensamente por Paulina.” (p. 12)

 

 

Nesta edição, Edith traz novos artistas para dialogar no capítulo “Um breve passeio no tempo” como o Eva Hesse, Walter De Maria, José Resende e Chiharu Shiota. O livro conta ainda com o capítulo o “Desenho das crianças” e “Conceitos e Pré-conceitos”. 

Um livro que traz questões do desenho, olhar para a infância, sobre arte e sua potência, seu caráter de experimentação, que traz as proposições e experimentações e principalmente um diálogo importante com arte-educadores, reconhecendo-os seu importante papel na sociedade.

 

 

“E agora, imersos na atual cena política mundial, compactuando com o luto coletivo de um tempo histórico que se foi, reafirmo, mais do que nunca, na minha aposta sobre a necessidade de olhar, com delicadeza e atenção, para a formação dos educadores, nossos heróis não declarados. Será somente a partir de uma construção artesanal da relação entre educador e educando, ponto por ponto, em todos os níveis e estratos da cultura, que se multiplicará a fundação de uma sociedade humanizadora” (p. 13-14)

“O educador será sempre o guerrilheiro capaz de alterar profundamente as estruturas da sociedade, na medida em que compartilha conhecimentos e sensibilidades que sempre estão por vir, costurando as pontes intermináveis entres os universos infantil e adulto. (p. 15)

Um livro como uma caminhada expansiva-generosa-viva. 

É imenso percebê-lo como parte de uma narrativa que continua.

Agradecidos por essa história compartilhada, Edith. 

Obrigada!

Camila

Foto de Patricia Cardoso

CAMILA FELTRE é doutoranda em Artes no Instituto de Artes da UNESP com a pesquisa: Processo de criação de livros como espaço de formação.  Escreveu o livro “É um livro? Mediações e leituras possíveis” publicado pela Editora UNESP em 2018. É professora e co-coordenadora na Pós-graduação O Livro Para a Infância – processos contemporâneos de criação, circulação e mediação d´A Casa Tombada. Atuou como educadora em instituições culturais como Centro Cultural São Paulo, Espaço de leitura, Casa das Rosas e no Programa de iniciação artística (PIÁ) da Secretaria Municipal de Cultura.

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