por Larissa Seixas
Existem aproximações entre imagens e emoções. Linhas que costuram, unem, agregam.
Costumo imaginar que andam de mãos dadas.
O extraordinário é perceber que estas duplas se organizam de maneira diferente em cada indivíduo. O que provoca em mim compaixão pode despertar no outro repulsa ou irritação.
Assim também acontecem com as intensidades. Para alguns a imagem se apresenta extremamente comovedora, para outros, beira a indiferença. Percepções distintas.
Impossível separar imagem e emoção. Emoção e indivíduo.
Seria possível não sentir por breve instante? Sentir é pertencer.
Não me considero escritora. Não tenho conhecimento para tanto. Gosto de pensar em autoria. Sou artista e percebo o quanto este lugar me conforta por me permitir a liberdade que necessito para criar. Sinto que é deste lugar que me comunico.
Até 2019 tudo caminhava serenamente. Então resolvi explorar o processo criativo em um ritmo nada habitual, apesar de fluido. Coloquei-me à disposição dos materiais artísticos e através de experimentação diária percebi inúmeras relações existentes entre as diversas imagens que surgiam e as emoções que me acompanhavam.
Ali à frente apareceu um caminho e bastaria apenas seguir trilhando. Neste trajeto criar livremente e observar o processo como disparador de percepções, sensações e conhecimento era suficiente.
Selecionei uma colagem produzida anteriormente e resolvi iniciar por ela. Foi o ponto de partida!
Não demorou para uma série de produções artísticas surgirem em seguida trazendo conteúdos simbólicos significativos.
Este processo durou, aproximadamente, doze meses e continuou reverberando tempos depois. Durante o percurso nasceu um conto. O movimento criativo impulsionado pela colagem, intensificou-se com a pintura, originou a escrita, abriu espaço para as ilustrações e revelou-me um fato: lá estava Ritmo do Coração e cá estou eu a contemplar sua trajetória.
Nunca havia escrito antes.
Com palavras impressas em um miolo, nunca.
Levando por aí o que sinto.
Sensação esquisita a de revelar-se dessa maneira.
Mas não pude evitar.
O embrião que dormia na colagem despertou “a moça”, embora ela não estivesse disposta ao diálogo. E por mais que eu tentasse me aproximar, desviava, acompanhando apressada o voo dos pássaros logo à sua frente.
Sem escolha, a segui. Primeiro com os olhos depois com muitas indagações.
Escrevi discreto texto, numa tentativa de capturar sua essência, mas ela sempre me escapava.
Continuei a acompanhar o seu movimento. Seus gestos tornaram-se meus gestos e comecei a pintar sua imagem em grandes dimensões. Ela era vasta.
Surgiram outras imagens: mandalas, montanhas … e palavras: centramento, direções, distrações, oceano …
A pintura extrapola o chassi da tela, escorre para o papel metro e outra narrativa se apesenta. Dessa vez em grafite.
Sensação esquisita a de revelar-me dessa maneira.
Escrevo mais um pouco.
Surge um livro, pequenino, com imagens carimbadas nas páginas em branco.
Não pude evitar!
O ritmo segue fluido. Constante. A estória afinal se apresenta e me permite compreender “a moça”, dessa vez sem palavras, sem imagens, apenas com o coração.
Larissa Seixas, baiana, artista plástica (UFBA), especialista em arteterapia (IJBA), ilustradora. Possui formações em psicoterapia infanto juvenil e sandplay (O Jogo da Caixa de Areia). Atende como arteterapeuta e proporciona espaços de experimentações criativas.
Instagram: @larissa.ilustradora @caminho.do.imaginário