Os veios do sensível, por Ângela Castelo Branco

 

por Ângela Castelo Branco

 

1.

das razões

Porque ela não morreu

e o avião não vai cair.

Porque é do acaso

e sublinha o sentido.

Porque já está escrito

e há perigo na esquina.

Porque tem voz e vez

uma história que pulsa.

Porque é do sim

que os mundos começam.

(Raquel Junqueira, Dermatográfico, 2020)

 

2.

da descida

Foi preciso descer ao inabitado

dos mundos.

Decompor lágrimas fantasias húmus.

Misturar-me à terra deitada.

Convidar-te para a cena original.

E só então perceber

que tudo é céu sobre nossos corpos.

(Raquel Junqueira, Dermatográfico, 2020)

 

Raquel me ensina que não basta dizer sim. É preciso descer ao inabitado dos mundos. (p.69)

Coccia me ensina que falar significa fazer com que a nossa pele exista fora de nós. (Emanuele Coccia, A vida sensível, p. 85)

Os dois me ensinam que a vida só é vida enquanto uma abertura para o sensível, para os sensíveis.

Passei muito tempo pensando que meu corpo em estado de húmus em chão cinzento falava algo. Mas, se tudo é céu sobre nossos corpos, preciso da cor, dos materiais, das linhas, das chuvas, dos cheiros, das texturas, dos aviões de outros corpos para que aconteça meu próprio rosto. Ou seja, preciso de sementes enfiadas na terra. Só assim os mundos começam. Ao longo de outros corpos podemos aparecer e reaparecer a cada esquina. Entrelaçados.

 

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