por Ângela Castelo Branco
Se em algum momento foi possível delinear o poema como um conjunto de estrofes, uma aula-poema poderia ser uma composição de frases nodulares impregnadas de ritmos, pausas, engasgos, derivas, condensando sentidos na direção de uma ramificação imprevista, nunca chegando ao verso final.
quem professa a aula-poema traz debaixo do braço pedaços de sentido para buscar o sem-sentido do encontro, pois o texto não se completa ali, mas se inicia. quantas vezes aquilo que se queria dizer em aula ficou pronto apenas três meses à frente?
no período que antecede a aula-poema nunca se deixa de escutar o sopro do romance de formação. a vontade de ser mestre, estrela guia, de resolver todos os nós por nós.
mas no ato, o poema fragmentário nos acerta em cheio. e, assim, o incalculável que uma aula-poema suscita torna-se muito mais motor do que qualquer coisa que se possa assegurar o é assim porque é.
uma aula poema se justifica muito mais pelos desdobramentos que produz que pelos conteúdos que acredita manusear.
uma aula-poema ativa o fazer-se poema de cada pessoa. estou tão ativa enquanto escuto uma aula-poema que aquilo que escuto não é nada senão minha própria escrita. estando ali, vou coletando pedaços de direção para onde desejo ir, já estando.
assim, leio minha voz que vem da escrita da voz de quem leu e escreveu a voz escrita de alguém: Aula-poema.
Primeira estrofe:
abertura de paisagens, que professa é também paisagem, traz colheitas de um pensamento itinerante
Segunda estrofe:
temos algo a fazer em comum, experimentamos desejos de fazer coletivamente e partilhamos
Terceira estrofe:
cada pessoa devolve seu próprio caminho no texto vivido nas estrofes anteriores. ativadas estamos em nossas próprias pesquisas infinitas.