por Adriana Friedmann
Acompanhar o percurso de alunos e alunas educadores, seus processos de pesquisas com crianças, suas descobertas e surpresas ao se abrirem para conhecê-las nas suas singularidades – independentemente do grupo e contexto onde cada criança se encontra – é, confesso, uma das maiores alegrias que um formador pode ter na sua vida pessoal e profissional. Acompanhar ‘a dor e a delícia’ de cada um ser quem é. Testemunhar a possibilidade dos profissionais mudarem de ponto de vista e de re significarem a vida das crianças, o jeito de percebê-las, a urgência em dar-lhes vez e voz, a emergência de silenciar para poder escutá-las e reconhecer suas potências e suas vidas!
Me comove acompanhar o delicado processo de renascimento que vive cada aluno e aluna-educador, ao se descobrir na sua própria essência. E perceber como estas descobertas abrem espaços, dentro e fora de cada um, para poderem olhar para as crianças com os olhos do coração: aquele mínimo gesto, aquele olhar único que ‘diz’, os movimentos dos corpos, as diversas expressões lúdicas. Observar com vagar os traços dos desenhos, a escolha das cores a serem usadas numa pintura, a força, o detalhe ou a delicadeza dos corpos numa brincadeira, os seus jeitos únicos de dançar ou se movimentarem.
Me sintonizo e sinto profundo orgulho quando a grande mudança acontece dentro de cada adulto que escuta: abrem-se novos espaços, espaços de permanecer no tempo das crianças, de se conectar com suas próprias emoções, com suas memórias, com seus incômodos, com suas lembranças, com suas luzes e sombras.
Não que os processos sejam fáceis, mas sem dúvida, muito transformadores. Tanto o processo da pesquisa quanto o da escrita, muito mais do que cumprir com uma ‘obrigatoriedade acadêmica’, têm um significado que entendo marcam uma fronteira definitiva na vida de cada estudante: uma mudança de postura ética e metodológica no que tem a ver com o respeito pelas crianças, suas infâncias e o repensar o papel de cada educador. Estas trajetórias marcam cada um, também no ato de evocar: suas raízes multiculturais, suas referências, sua essência e sua vocação. Nunca é tarde para redirecionar nossas vidas na estrada da qual muitas vezes nos desviamos, estrada que é única para cada ser humano, mas na qual nem sempre conseguimos permanecer por conta das demandas ou expectativas do(s) outro(s), do mundo lá de fora.
Elaborar um texto, uma poesia, uma obra de arte, um trabalho de conclusão de curso nas inúmeras possibilidades expressivas que possibilitamos aos alunos, constitui desafio maior para todos! Sempre sob o manto e o cuidado de um orientador escolhido com muita delicadeza para poder pegar na mão de cada um e ajudá-lo a atravessar esse labirinto que é a pesquisa e a expressão a partir de uma voz própria do que ali foi vivenciado!
Assim, poder compartilhar o nascimento das vozes e expressões das alunas da primeira turma da Pós Graduação ‘A vez e a voz das crianças’, é mais um motivo de alegria e orgulho.
Os temas e olhares sensíveis que nasceram neste grupo de alunas – todas mulheres, educadoras, professoras, gestoras, artistas e arteiras, jornalistas, coordenadoras de programas, empreendedoras – a partir dos Trabalhos de Conclusão de Curso; constituem contribuição fundamental para dar luz às diferentes realidades das crianças Brasil afora, e a conteúdos que anunciam e precisam de debate e aprofundamento para quem quer que tenha algum vínculo com as infâncias: famílias, professores, educadores, psicólogos, cientistas sociais, gestores, urbanistas, políticos, economistas, etc. Enfim, toda a sociedade que se torna responsável pelo presente e pelo futuro das crianças e jovens com quem se relacionam, de uma outra forma.
A escolha de cada grupo e de cada tema pesquisado se deu a partir da inquietação de cada aluna. E este movimento autônomo – sempre com nossa orientação e apoio – foi fundamental para que, apesar do caminho ser árduo e complexo – sobretudo nestes meses de pandemia – cada uma tenha vislumbrado luz ‘no fim do túnel’, motivos consistentes para afirmarem, a partir das suas narrativas, o quanto vale a pena caminhar com compromisso, responsabilidade e sensibilidade, atrás desta utopia que são as vidas das nossas crianças e suas infâncias.
Para início de conversa, convido todos e todas a adentrar nestes universos infantis a partir da autoria de cada novo especialista em ‘Escutas antropológicas e poéticas das infâncias’.
Conheçam a riqueza e as vozes infantis que acabam de nascer!
Que de poeta e de antropólogo, todo mundo tem um pouco!
As vozes dos bebês:
O que dizem as crianças sobre suas pesquisas e descobertas em seus diálogos sem palavras? – Carla Bruna Altafini Nastri
Experiências de uma formadora de professoras interessada em ambientes e brincadeiras que possibilitam dar voz aos bebês – Teresa Andréa Ferrara
A relação educador, criança e família e os micro processos educativos – Tânia Fonseca
Participação das crianças:
A escola pelo olhar das crianças: O que pensam as crianças sobre a escola? – Edilaine Nogueira
A palavra que lavra a prática pedagógica. A voz do Conselho Mirim – Márcia Covelo
As vozes das crianças nos ambientes da escola:
O papel do educador na qualidade das relações que os bebês constroem no ambiente escolar – Glaucia Fernandez
A vez e a voz das crianças nos momentos de alimentação na instituição de Educação Infantil – Eliani Ragonha
Conversas ao pé do ouvido: alimento para as infâncias – pesquisa com crianças de um Centro de Educação Infantil durante o jantar – Vydian Batista
Linguagens expressivas:
Experiências de escuta: ritmos, movimento e gesto, linguagens infantis – Ingrid Vieira dos Santos
Na escuta: o que as crianças me ensinaram sobre infância, arte e educação – Sabrina Costa Barros
Ensaio sobre experiências e interações multietárias – Gabriela Schein Riberto
Livro e Literatura: colo, sustentação e vínculo – Daniela Padilha
Percepções sobre as manifestações infantis em tempo de isolamento social – Luciana Shbampato
O brincar das crianças:
Investigações sobre o brincar interrompido. Observação e escuta de crianças pequenas e seu brincar – Laizane Cristina Santos de Oliveira
As surpresas do brincar – Andrea Bargas
Presente brincar – ensaiando a escrita, brincando de estar – Natália Ilse
Criança brinca com o quê? – investigação sobre o uso de materiais de largo alcance em uma escola da primeira infância – Jacqueline Nara Assis
Os percursos das crianças:
Ônibus(ando): buscando pistas no percurso da criança – Miraíra Noal Manfroi
Caminhos que marcam o papel e a alma das crianças – Laís Fleury
Onde vocês estão? Caminhos das crianças nas redes sociais – Kátia Keiko Matunaga
Caminhografias: linhas das crianças que passam – Isabela Assencio
Registros sobre crianças e infâncias:
Uma docência narrativa: documentação pedagógica na educação infantil – Fernanda de Jesus do Carmo
Esticador de horizontes: a experiência de quem observa e registra infâncias pelo Brasil – Fernanda Miranda
Inclusão e interações de crianças:
De criança para criança: os efeitos da interação em uma escola inclusiva de educação holística – Cristina Rocha
Escuta de educadores, biografias e memórias de infância:
Relatos biográficos: a arte de imaginar e narrar a infância – Laís Nóbile
Cinco histórias – meadas de memórias, tear de infâncias – Helena Segnini
Educadora, crianças e espaços: construindo experiências e conhecimentos juntos – Fabiane Vitiello
Tornar-se um professor pesquisador: a “mostra Sconfinamenti — atravessar fronteiras” como dispositivo de formação – Telma Holanda
Inventário – diário de uma educadora: a busca por um planejamento de escuta – Leila Ramos Monteiro
Rastros. Escuta das crianças que vivem em nós – Elisa de Souza Schuler
Os trabalhos estão acessíveis na Plataforma da Casa Tombada – http://biblioteca.acasatombada.amarelinha.cc/omeka/items/browse?collection=1