Níní Kemba Náyọ̀
Um manual para meninos negros, de como amar mulheres negras. É assim que eu chamo o livro escrito por Ana Fátima, As tranças de minha mãe. Akin, é o personagem principal, um menino preto que é admirado pelas tranças da sua mãe e a beleza que esse signo africano confere à ela. A forma como Akin entende que a beleza da sua mãe reflete toda a beleza da sua família e assim, a própria beleza dele, é leve, poética e direta.
A narrativa filosófica desse livro me toca profundamente porque evidencia a sensibilidade nos meninos negros, o pensamento que mora no coração e a ligação direta entre cabelo, turbante, orixá, família, dengo e beleza.
Dengo, o termo Bantu que reflete o que os pretos compartilham entre si, de um para o outro, consigo mesmo e com as energias da natureza, os Orixás.
Akin entende que toda a sua família é preta, que a cor e a beleza da sua pele têm origem africana e ele fica como que em êxtase vendo a mãe sempre ajeitando as tranças, colocando turbante em frente ao espelho.
Os sentimentos de Akin pela mãe é uma construção que podemos e devemos realizar dentro das nossas casas e nas escolas, porque da mesma forma que a sociedade racista ensina meninos e meninas a não amarem e verem beleza no seu oposto, odiando o seu igual, nós também podemos fazer o inverso. Mediar o amor a partir da sua própria subjetividade, da sua própria beleza, DENGO!
Ana Fátima dedica seu primeiro livro ao seu filho Akin e nos mostra que essa construção diária é possível.
E você já pensou no manual de construção de dengo e beleza que vai dar pra seu filho?
Níní Kemba Náyọ̀ Pedagoga de formação, Contadora de Histórias Pretas, Pesquisadora autônoma da Literatura Negro-Africana Infantil, Idealizadora da Oficina de Contação de histórias pretas Literatura de Erê e do Curso de Educação Afrocentrada, Consultora Pedagógica e CEO na @liteafroinfantil e no canal do YouTube LiteAfroInfantil