por Keila Knobel
Meu pai dizia que eu era “do contra”. De certa maneira, ele estava certo. Eu evito ler livros que todo mundo está lendo ou comentando, por exemplo. Mas depois de ouvir tanto sobre o Suíte Tóquio, de Giovana Madalosso (Todavia, 2020), a curiosidade foi mais forte. E o livro, mais ainda.
Eu sabia, como você talvez também saiba, que os capítulos alternam a voz da babá que sequestra Cora, quatro anos, com a voz da mãe. Duas mulheres que têm apenas a menina em comum, e mesmo assim com vínculos bem diferentes. Para a mãe, que está no auge da vida profissional e apaixonada por outra mulher, os compromissos com a maternidade e o casamento são pequenos obstáculos entediantes que ela ignora com razoável facilidade. Para Maju, seu trabalho também é sua vida mas, ironicamente, ele é cuidar de Cora. A terceira voz é a de quem lê e que pode, de repente, completar na história de dentro de um tribunal ou de um confessionário.
Um thriller que me causou a angústia (entre muitas outras) de estar entre a pressa para virar as páginas e o desejo de me ater demoradamente às reflexões sobre a maternidade como instituição, escolha ou instinto, as relações de trabalho e diferenças sociais, o destino e o acaso.
Se você está tentando adivinhar como termina essa história ou do lado de que personagem você ficaria, te respondo com um trecho do livro:
Você acha mesmo que um baralho é capaz de adivinhar o que aconteceu?
Adivinhar não, mas é capaz de sugerir caminhos para que o nosso inconsciente encontre a resposta. É nisso que se apoiam as artes divinatórias, numa projeção probabilística baseada no que já sabemos, ainda que de forma inconsciente. Lembra o que o delegado disse, que muitas vezes a solução está dentro das pessoas?
*frase de Arnon Grunberg, epígrafe do livro