Trilhando Caminhos para a Formação de Professores: havia ARTE no meio do Caminho

 

por Cordélia Correa

 

Caminante, no hay camino,

se hace camino al andar.

(Antonio Machado)

 

A chamada formação em serviço tem por objetivo promover o alinhamento da equipe tanto nos aspectos cotidianos quanto metodológicos, além de promover o aprofundamento dos conhecimentos do ser professor, dos valores humanos e, parafraseando Antonio Nóvoa, concretizar o projeto coletivo que é a Escola.

Em um de seus artigos publicados, Nóvoa afirma que o ser professor envolve três dimensões distintas, porém complementares “A primeira é o desenvolvimento de uma vida cultural e científica própria. Facilmente se compreende que os professores, como pessoas, devem ter um contacto regular com a ciência, com a literatura, com a arte. É necessário ter uma espessura, uma densidade cultural, para que o diálogo com os alunos tenha riqueza formativa. A segunda é a dimensão ética, a construção de um ethos profissional. A terceira dimensão é a compreensão de que um professor tem de se preparar para agir num ambiente de incerteza e imprevisibilidade. É evidente que temos de planear o nosso trabalho. Mas, tão importante como isso é prepararmo-nos para responder e decidir perante situações inesperadas. No dia a dia das escolas somos chamados a responder a dilemas que não têm uma resposta pronta e que exigem de nós uma formação humana que nos permita, na altura certa, estarmos à altura das responsabilidades.” (NÓVOA, 2017)

Assim é necessário pensarmos em um processo de formação continuada que consiga abarcar a ampliação do repertório científico-cultural que fortaleça a interlocução por parte do professor com os estudantes, abrangendo nessa dimensão a Literatura e as Artes, especialmente. A discussão deve favorecer a dimensão ética, fortalecendo o agir enquanto educador no aspecto moral, abarcando os princípios norteadores de uma ação. Por fim, a dimensão das decisões responsáveis diante do imprevisível e inesperado, pois cotidianamente o professor precisa estar preparado para decidir/agir diante dos fatos, privilegiando a coerência e o alinhamento aos valores humanos.

Nóvoa com suas proposições me fez resgatar as primeiras aulas do curso de Arte-Educação com o professor Lino de Macedo em que pude ampliar minha própria reflexão sobre o ser educador nos tempos atuais, percebi que a formação de um professor, seja ele de qual segmento for, precisa contemplar aspectos que ampliem as possibilidades dos alunos, que valorize cada um de maneira integral, as diferentes formas de expressão e de posicionar-se em um mundo de caráter aberto e de futuro incerto. Um professor inspira, amplia os horizontes, sensibiliza-se, é presente. Ao longo do percurso meu propósito inicial só se fortaleceu, considerar a Arte como eixo articulador na formação de professores, além da ampliação do conceito de estética e a diversidade das experiências compartilhadas pelos colegas/professores me revelaram um mundo cheio de possibilidades, relações e esperança.

Abro então espaço para esta importante palavra: conexão, do latim conexione, significa, ligar-se, estabelecer ligação, laços ou vínculos. Como aprender sem estabelecer conexões? Qual o papel de um professor, senão conectar-se/ criar laços/ vincular-se? Através da leitura dos diferentes textos, me senti atraída por buscar a etimologia das palavras, sua beleza, sua totalidade. Muitas vezes, me pergunto como desenvolver o olhar, a escuta e a sensibilidade dos professores para tamanha complexidade do processo de aprendizagem. Durante as aulas o caminho que se confirma é o contato com as artes, pois através de uma obra, uma composição, uma dança, uma poesia é possível ativar o que há de mais humano em cada um. A arte tem a potência para sintetizar, eternizar, acessar, evocar e reverberar.

Ao deparar-me com a beleza do texto “Para o amor florescer” (2010), escrito pelo professor Lino de Macedo, as ideias se complementaram, a busca pelo essencial, pelo cuidado, o importar-se, o implicar-se, o responsabilizar-se, a cooperação, passaram a colorir e mapear nosso quadro, educar/amar revelaram-se como palavras indissociáveis, interdependentes.

“O amor é silencioso. Ele se manifesta como cuidado, dar importância, compartilhar e cooperar, ou seja, como atividade que cria vínculos, tece relações, realiza projetos. O amor não é apenas um observável, algo sobre o qual se fala, mas uma forma de coordenação, uma qualidade de criar nexos entre nós e os outros, nós e todas as coisas.” (MACEDO, 2010)

Aprender nada mais é do que um ato de amor, realizar projetos, construir, ligar-se ao outro de modo a me reintegrar e me reencontrar. É de extrema importância devolver ao aprender a legitimidade, descartando tudo o que é protocolar e burocrático. O sentido da formação continuada dentro da instituição Escola deve ter por princípio como eixo condutor despertar em cada educador o real sentido do ser professor passando pelos diferentes dilemas, como reafirma Nóvoa, “pessoalmente, prefiro falar em transformação deliberativa, na medida em que o trabalho docente não se traduz numa mera transposição, pois supõe uma transformação dos saberes, e obriga a uma deliberação, isto é, a uma resposta a dilemas pessoais, sociais e culturais.” (NÓVOA, 2017)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Cordélia Correa – Formada em Pedagogia pela Universidade de São Paulo, possui especialização em Arte-Educação pela ECA-USP, estudos em Relações Interpessoais e Ética pelo Instituto Vera Cruz. Atua na Educação há mais de 25 anos e em sua trajetória atuou como professora, orientadora e coordenadora em instituições como Colégio Sidarta, Colégio Miguel de Cervantes e Maple Bear Sorocaba. Atualmente vive em Barcelona, Espanha, seguindo firme no caminho das Artes e da Cultura de Paz, ampliando conexões através de consultoria pedagógica. Tem um coração apaixonado pela Educação e pela Arte, inquieta acredita no poder da diversidade e da troca através do diálogo. A esperança em um mundo melhor impulsiona a continuidade. Entre os tantos papeis destaca ser mãe da Helena e do Miguel.

 

 

 

 

 

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