A Casa Tombada novamente em pé
Após um ano intenso, em que a Casa se desdobrou e não tivemos escolha senão acompanhá-la, lembramos desse texto do nosso querido sempre-presente Dorival Teixeira (pai da Ângela) recebido no dia da inauguração da casa, em 18 de junho 2015.
A CASA TOMBADA NOVAMENTE DE PÉ
Ao tornar-se um patrimônio histórico-cultural com fins memorialísticos, de utilidade pública, ou, vazado num vulgarês mais enxuto, – ao ser tombado,- um imóvel tem a sua estrutura arquitetônica congelada,só podendo passar por reformas acidentais, a saber, pictórica, mobiliária ou iluminescente. Mas isso, via de regra, só raramente acontece. Mas, por causa do descaso casual dos causadores causídicos do tombamento, essas casas acabam relegadas ao ostracismo público,tornando-se redutos preferenciais de sem-teto ou, segundo o imaginário popular, o abrigo invisível de entidades fantasmagóricas oriundas do além – as assim chamadas casas mal-assombradas; e, com incidência ainda maior, viram habitáculos propícios à vertiginosa proliferação dos microscópicos acarídeos antissanitários. Inoperantes para desalojar os ácaros e fantasmas municipais,- título de direito adquirido em virtude do tombamento -, as autoridades só têm competência para desapropriar os insetos e espectros invasores humanos, se bem que revestidos de carne e osso.
Afortunadamente, porém, tal não foi a sina histórica desse ex-casarão assobradado, assombreado e (quiçá) mal-assombrado, graças ao dinamismo empreendedor, esforço conjugado e visão de descortínio de um casal de educadores: Giuliano e Ângela; ele, exímio contador de histórias e mestre posgraduado na disciplina correspondente; ela, posgraduanda em educação e poetisa de primeira água, batizada nas águas poéticas da modernidade líquida à baumaniana (de Zigmunt Bauman), para não dizer baumaníaca- já que sua análise crítico-social atinge impiedosamente todas as instituições sólidas e concretas até então vigentes. A poetisa Ângela já deu provas cabais de sua maestria em surfar poeticamente nas ondas de proporções tzunâmicas da modernidade líquida baumaniana,talvez só ficando aquém do bruxo líquido-modernoso Manuel de Barros.Com seu otimismo confiante no exitoso empreendimento, eles lançaram mãos à obra, exorcizando, a um só tempo, os indesejáveis acarídeos microscópicos e os invisíveis entes fantasmagóricos, porventura em os havendo. O passo sequencial foi dar-lhe um tapa no visual interno e externo,tanto no aspecto pictórico, como no mobiliário e luminarístico.
O alvissareiro do resultado não se fez esperar e está diante de nossos olhares entre curiosos e gratificados: a casa tombada reergueu-se das trevas à luz, reabrindo suas portas e janelas para ser novamente iluminada e arejada pelo privilegiado entorno urbano, no qual se acha inserida; erigindo-se,enfim, num espaço sociocultural educativo polivalente, constituindo-se num ponto de encontro ideal para duas volências teleológicas complementares e auspiciosas, quais sejam, a docente e a discente, o que,vazado num vulgarês mais enxuto, quer dizer educação holística,que será, por certo, a bandeira gloriosa a ser desfraldada no frontispício da Casa Tombada (agora,com letras versais.
Felizes os matriculandos na Casa Tombada, novamente de pé! Congratulações aos fautores dessa benemérita realização comunitária! Capacidade líquida de adaptação e vontade sólida de realização: eis os dois apanágios axiais do sucesso dessa benemérita instituição educativa hoje inaugurada.
Dorival Teixeira